sábado, 7 de março de 2015

Canal do Panamá, o gigante que conecta os oceanos

O Canal do Panamá, maravilha da engenharia por onde passa 5% do comércio marítimo mundial, completa 100 anos entre caminhões carregados de pedras, gruas e retroescavadeiras que trabalham em sua monumental ampliação, em plena concorrência com dois projetos rivais.





No dia 15 de agosto de 1914 o barco Ancón, com 200 passageiros a bordo, cruzava pela primeira vez a rota que, após o fracasso dos franceses, foi aberta pelos Estados Unidos ao longo de 80 km na parte mais estreita da geografia da América: o velho sonho de unir os oceanos Pacífico e Atlântico se tornava realidade.

Um século depois trabalhadores com capacetes e coletes escavam, montam comportas e levantam muros com toneladas de concreto para permitir a passagem de gigantes pós-Panamax, navios de mais de 12.000 contêineres, o triplo de carga dos que atualmente atravessam a via.

O administrador da rota, Jorge Quijano, declarou que para o Panamá, o Canal significou progresso. Deixou de ser uma província colombiana esquecida para se tornar um Estado independente que podia escolher seu futuro. Sua contribuição para o comércio na época foi definitiva e a ampliação é o que se que oferecer ao mundo hoje.

Com um ritual cuidadoso que leva dez horas, 14.000 barcos por ano, principalmente de Estados Unidos, China, Chile e Japão, cruzam de oceano a oceano carregados de mercadorias, petróleo, carros, grãos ou passageiros, em uma rota que envolve 1.700 portos em 160 países.





  


Revolução comercial

Evitando milhares de quilômetros até Cabo de Hornos, o canal panamenho transformou a navegação e o comércio mundial: reduziu distâncias, tempos e custos de transporte de mercadorias entre os centros de produção e consumo.

Primeiro, ele permitiu aos Estados Unidos mover sua frota militar e o comércio entre suas costas leste-oeste. Depois favoreceu a Europa e a Ásia nos anos 50 e 60 quando o Japão se tornou
potência industrial, e nos últimos 25 anos abriu as portas do mercado da América Latina para países como a China. Os panamenhos sentem uma responsabilidade frente ao mundo, por isso o Canal deve ser modernizado para se ajustar ao comércio internacional.










A expansão no valor de 5,25 bilhões de dólares começou em 2007. Em 2009 teve início sua principal obra: um terceiro conjunto de comportas construídas por um consórcio internacional Grupo Unidos por el Canal (GUPC), liderado pela empresa espanhola Sacyr, tendo participação de empresas da Itália, Bélgica e Panamá. 

A ampliação seria inaugurada no ano do centenário, mas sofreu atrasos com greves e disputas por custos adicionais milionários que a Sacyr exige da Autoridade do Canal do Panamá. Em 2016 serão abertas as comportas da terceira via por onde entrarão os pós-Panamax.






Concorrentes comerciais

Imersos na colossal obra, os panamenhos receberam duas notícias preocupantes: a ampliação do Canal de Suez e o projeto de outra via interoceânica, uma velha obsessão da Nicarágua que revive a rivalidade de mais de um século atrás com o Panamá.O de Suez não compete em muitas rotas com o do Panamá, mas o da Nicarágua sim. Não há espaço para dois canais na América Central para que os dois sejam viáveis economicamente.

Já o projeto no qual um empresário chinês pretende construir em cinco anos um canal de 278 km - três vezes mais longo que o panamenho - a um custo de 40 bilhões de dólares exigindo que 400 mil hectares de floresta sejam desmatados é posto em xeque, já que o investimento é muito alto para a complexidade da obra e o impacto ambiental será sem precedentes. Provavelmente, os chineses só querem garantir os direitos de uma zona de livre comércio, que fazem parte do contrato com a Nicarágua.

A demanda atual é perfeitamente atendida pelo Canal do Panamá. Mas utopias podem ter vida longa. Afinal, foram necessários 385 anos para que os planos de construção do Canal do Panamá – inicialmente planejado em 1529, por ordens do imperador Carlos 5º – fossem colocados em prática. A Nicarágua ainda teria, portanto, bastante tempo para construir mais uma maravilha do mundo.

Mais longo, largo e profundo que o vizinho panamenho, o novo canal é obra do misterioso multimilionário chinês Wang Jing, de 41 anos. Presidente da gigante das telecomunicações Beijing Xinwei Telecom Technology Co., onde tem participação de US$ 1,1 bilhão, ele é o único representante conhecido da HKND Group (Hong Kong Nicaragua Canal Development), empresa que obteve a concessão da obra na Nicarágua.

O período de concessão prevê 50 anos pelos direitos de construir o canal e outros 50 para administrá-lo. O local deve ainda abrigar dois portos, um aeroporto, um centro turístico e um parque industrial.

O projeto, entretanto, enfrenta resistência de ambientalistas e comunidades locais. A preocupação são os impactos em comunidades pobres da região e em reservas naturais - o canal atravessará uma importante fonte de água e um lago, o que pode assorear rios locais.

Veja alguns dos números e cifras da obra:
  • US$ 50 bilhões é o valor estimado para a construção do canal da Nicarágua, segundo a HKND.
  • 50 mil pessoas devem ser empregadas diretamente na obra, de acordo com a HKND.
  • 200 mil empregos indiretos também são estimados pelos responsáveis pela obra.
  • 278 quilômetros ou 3,5 vezes o tamanho do canal panamenho, é o comprimento previsto - o canal do Panamá tem 77 quilômetros.
  • 41 anos é a idade do multimilionário chinês Wang Jing, que vem sendo questionado por suposta falta de experiência em obras de engenharia desta magnitude.
  • US$ 1,1 bilhão é a participação de Wang Jing na Beijing Xinwei Telecom Technology Co., empresa de telecomunicações em Pequim, na China.
  • 230 a 520 metros é a variação de largura prevista para o canal. Sua profundidade máxima deve ser de 27,6 metros.
  • 5 anos é o tempo previsto para a obra. No caso do Panamá, a construção durou 10 anos.
  • 50 anos é a duração prevista para a concessão dada pela Nicarágua a chinesa HKND, podendo se estender por mais 50.
  • 8,624 km² é a área de superfície do Grande Lago da Nicarágua. A rota do canal atravessará esta grande massa de água doce, a maior da América Central, o que desperta críticas de ambientalistas.





A alma do Panamá

As histórias do Canal e do Panamá como país independente se confundem. Em 1881, o francês Ferdinand de Lesseps, construtor do Canal de Suez, tentou abrir a rota, mas fracassou por problemas de engenharia, financeiros e pelas doenças tropicais, que mataram mais de 20.000 trabalhadores.

Depois de promoverem a separação da Colômbia, os Estados Unidos receberam do nascente Estado panamenho o aval para fazer um canal, pagaram aos franceses 40 milhões de dólares por direitos e o construíram de 1904 a 1914. Instalaram ainda bases militares e um enclave com governo próprio em terras das quais havia obtido a perpetuidade.

Décadas de luta nacionalista levaram em 1977 aos tratados assinados pelo líder panamenho Omar Torrijos e pelo presidente americano Jimmy Carter, que entregaram ao Panamá o Canal no dia 31 de dezembro de 1999.

Desde então, a via forneceu ao Estado panamenho 10 bilhões de dólares, mais do que em 85 anos sob propriedade americana. A ampliação triplicará os atuais ganhos em 1 bilhão ao ano. Até 2025, a quantia deve quadruplicar.

A gigantesca passagem no país gera mais de 10.000 empregos e dinamiza negócios e serviços (6% do PIB) que fazem da economia panamenha uma das mais fortes da América Latina (cresceu 8,4% em 2013).

Curiosidades da obra

  • A obra custou 639 milhões de dólares, sendo 55% desse total gasto pelos Estados Unidos e 45% pela França
  • Cerca de 80 mil pessoas estiveram envolvidas na realização das obras, sendo 75% na etapa americana e 25% na etapa francesa
  • Mais de 25 mil homens morreram nos 35 anos de construção do canal, o que corresponde a quase duas mortes por dia
  • Todo o cimento utilizado na construção da estrutura foi trazido em navios de Nova York
  • O canal possui aproximadamente 80 quilômetros de extensão e um navio leva, em média, dez horas para cruzá-lo e mais 20 horas entre manobras de aproximação e outros serviços
  • Um navio de grande porte viajando de Nova York a São Francisco economiza 14 580 quilômetros utilizando o Canal do Panamá em vez de circundar a América do Sul
  • Como é cobrado por peso, o maior pedágio pago para atravessar o canal foi de 141 mil dólares, pelo cruzeiro turístico Crown Princess. Já o menor foi de 36 centavos de dólar, pago por Richard Halliburton, que atravessou o trecho a nado em 1928
  • Para construir o canal foram removidas cerca de 300 milhões de metros cúbicos terra, quantidade suficiente para construir uma nova Muralha da China, só que 1600 quilômetros mais extensa
  • Cruzam o Canal do Panamá, em média, 42 navios por dia, quase 15 mil navios por ano. Por ali passa, atualmente, cerca de 5% do comércio mundial


Fontes:
  1. http://pt.wikipedia.org/wiki/Canal_do_Panamá
  2. http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/canal-de-panama-completa-100-anos-ameacado-por-concorrencia
  3. http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_fotos/2014/08/140815_datavispanama_ebc
  4. http://www.dw.de/canal-do-panam%C3%A1-completa-100-anos-de-olho-na-expans%C3%A3o/a-17855251
  5. http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/08/canal-do-panama-completa-100-anos-em-expansao-veja-imagens-historicas.html
  6. http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2014/08/canal-do-panama-foi-inaugurado-ha-100-anos-ligando-atlantico-ao-pacifico.html
  7. http://pt.wikipedia.org/wiki/Canal_da_Nicarágua
  8. http://www.opovo.com.br/app/maisnoticias/mundo/americacentral/2014/12/23/noticiasamericacentral,3367330/nicaragua-inicia-obras-de-projeto-que-sera-concorrente-do-canal-do-panama.shtml
  9. http://www.dnoticias.pt/actualidade/mundo/425272-nicaragua-constroi-canal-concorrente-ao-do-panama
  10. http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2006/10/061004_nicaraguacanalfn.shtml
  11. http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=3627238
  12. http://pt.wikipedia.org/wiki/Canal_da_Nicarágua
  13. http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/01/canal-da-nicaragua-sera-concorrente-para-o-do-panama-4691627.html
  14. http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/11/141120_canal_nicaragua_numeros_rs
  15. http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/12/141219_nicaragua_ru
  16. http://direitoepoder.com.br/o-brasil-e-o-canal-da-nicaragua/
  17. http://pt.wikipedia.org/wiki/Canal_de_Suez
  18. http://www.tecmundo.com.br/engenharia/52229-engenharia-canal-do-panama-vai-receber-portoes-novos-e-monstruosos-.htm

2 comentários:

  1. esta pesquisa acrescentou muita informação as pesquisa que eu fiz sobre o canal do Panamá.

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  2. muito uteis os sites de ensino a distância, para quem precisa fazer as atividades complementares.

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